Se você acha que de repente você está ouvindo a expressão “agricultura regenerativa” toda hora, você não está errado. O conceito ganhou força nos últimos anos, embora isso não seja novo para a Rainforest Alliance.
Desde 1987, trabalhamos para tornar a agricultura mais sustentável ao fazer parcerias com produtores em todo o mundo para utilizar métodos de cultivos que protegem a terra. Consideramos que a sustentabilidade é uma jornada – e para nós, o destino final é a regeneração.
Em outras palavras, a agricultura sustentável é uma abordagem de redução de danos – um primeiro passo crucial no caminho em direção a criação de um sistema que contribui para a riqueza da natureza. Um produtor pode começar ao reduzir os insumos externos como pesticidas, por exemplo, e eventualmente melhorar a saúde de sua terra, já que muitos pesticidas não são necessários. Quando as medidas enriquecem a terra – como o plantio de árvores de sombra para proteger e nutrir os solos – são aplicadas em todas as frentes, você tem uma fazenda regenerativa.
A agricultura como uma solução climática
Considerando o Relatório recente da ONU sobre a biodiversidade global — e suas conclusões alarmantes de que o mundo falhou em atingir todas as metas de parar a destruição ambiental — não podemos ficar satisfeitos em simplesmente restringir nossos impactos negativos na terra: Devemos repensar nossos sistemas agrícolas para melhorar a biodiversidade e armazenar carbono no solo. Acerca de dois milhões de espécies estão em risco de extinção, parte devido à destruição do ecossistema — com frequência chamada de “mudança do uso da terra” ou “conversão” — e a agricultura é um fator primordial de destruição.
Nos trópicos, onde a Rainforest Alliance trabalha, existem mais espécies por metro quadrado que nas latitudes ao norte. Então quando as florestas tropicais são removidas para dar lugar à agricultura, o número de espécies perdidas é maior. Os métodos de agricultura convencionais, como a aplicação excessiva de fertilizantes e pesticidas, causam efeitos negativos em cadeia nesses preciosos ecossistemas.
Aqui na Rainforest Alliance, a agricultura regenerativa se enquadra em um guarda-chuva climaticamente inteligente, pois para atingir um ponto onde as fazendas sejam de fato regenerativas, é preciso levar em consideração os impactos duradouros das mudanças climáticas. O que é “inteligente” na agricultura climaticamente inteligente é o fato de levar em consideração as ameaças climáticas específicas de uma dada região — sejam secas, enchentes ou aumento das temperaturas — ao determinar os métodos para responder esses desafios.
Aqui estão algumas áreas onde a Rainforest Alliance promove agricultura regenerativa.
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Biodiversidade na fazenda e na floresta
Muitos de nós pensamos tigres e leões quando pensamos em biodiversidade – e de fato, todos os animais são necessários para o equilíbrio da natureza, e é por isso que o Programa de Certificação da Rainforest Alliance proíbe a caça nas fazendas. Mas as criaturas mais minúsculas, como as 200.000 espécies de polinizadores (por exemplo, pássaros, morcegos e abelhas) também são vitais para os ecossistemas e para a produção de alimentos. A agrofloresta, que é a prática de produzir cultivos entre as árvores nativas, e estabelecer corredores para a vida selvagem são dois meios poderosos para aumentar a biodiversidade ao seu redor.
A fazenda de 1.000 hectares Aquiares Estate Coffee na Costa Rica, que se localiza entre a maior reserva ambiental do país e uma montanha vulcânica, é um grande exemplo de como as práticas agrícolas desenhadas para melhorar a biodiversidade e melhorar a fertilidade do solo podem restaurar a saúde geral de um ecossistema. O gerente geral Diego Robelo diz que desde que a fazenda iniciou sua transformação em sustentabilidade com a Rainforest Alliance há 2003 anos, a propriedade foi de uma monocultura a pleno sol para o cultivo de café sob a sombra de árvores nativas.
Sendo a maior fazenda de café Certificada Rainforest Alliance na Costa Rica, Aquiares vem sendo uma pioneira na aplicação de princípios regenerativos em larga escala, plantando mais de 50.000 tipos de árvores e efetivamente conectando dois corredores importantes de vida selvagem. Agora a fazenda possui 76 espécies diferentes de árvores nativas e 140 espécies de pássaros — 103 das quais não eram observadas antes da Aquiares iniciar seu trabalho com a Rainforest Alliance.
Cursos d’água
As zonas ripárias — faixas de terra ao longo de cursos d’água nas quais vegetação e árvores são plantadas — são requeridas em nosso programa de certificação, pois são palco para outras medidas de conservação de água usadas para prevenir a erosão de córregos e rios locais.
Na região produtora de cacau de Juaboso-Bia, em Gana, o desmatamento e as mudanças climáticas causaram a seca de um rio local vital por vários meses do ano. Um grupo de 36 comunidades produtoras de cacau parceiras da Rainforest Alliance formou um comitê para manejo da terra, que planejou e executou o plantio de árvores nativas nas margens dos rios. Os produtores também introduziram outras práticas de conservação de água e solo, e o rio voltou a fluir durante todo o ano.
Adaptação, resiliência e mitigação as mudanças climáticas
A agricultura climaticamente inteligente ajuda os produtores a se adaptar às mudanças climáticas ao identificar seus particulares desafios climáticos — tais como novos padrões de clima, temporadas de produção mais curtas, secas ou chuvas pesadas — e a encontrar os métodos corretos para superá-las. Esse tipo de adaptação direcionada ajuda os produtores a construir resiliência aos impactos prejudiciais das mudanças climáticas: Um estudo com produtores de café na Colômbia mostrou que, em um ano de clima adverso e de várias infestações de doenças fúngicas, os produtores certificados perderam apenas 1% de produtividade, contra 52% de perda do grupo de controle.
Além disso, a agricultura climaticamente inteligente ajuda a combater as mudanças climáticas, uma vez que um solo saudável — um benefício claro das práticas regenerativas — podem atuar tanto como um reservatório de carbono como um sequestrador de carbono (um mecanismo que remove os gases efeito estufa da atmosfera). Na verdade, o solo é o maior reservatório de carbono terrestre do planeta — maior até do que o que chamamos de fitomassa, a quantidade total matéria orgânica vegetal com vida na Terra.
Cultivos que são compatíveis com a agrofloresta oferecem benefícios climáticos adicionais. A cobertura de árvores não apenas melhora a biodiversidade e a qualidade do cultivo, mas é uma nova forma de combater o aquecimento global uma vez que as árvores retiram carbono da atmosfera.
Manejo integrado de solo, plantas daninhas e pragas
O processo de se tornar uma fazenda livre de herbicidas exemplifica a jornada da sustentabilidade para uma agricultura regenerativa. Mahendra Peiris, um inovador no manejo de plantas daninhas sem herbicidas utilizado nas fazendas de chá Certificadas Rainforest Alliance no Sri Lanka, explica que o primeiro ano dessa abordagem requer um investimento substancial em mão-de-obra. Os trabalhadores extraem as daninhas e deixam as benéficas se proliferarem e enriquecerem o solo com nitrogênio (as plantas daninhas são compostadas para se tornarem fertilizantes).
No segundo ano, a mão-de-obra é menos intensiva, pois as plantas benéficas mantêm as daninhas distantes. No terceiro ano, a produtividade do cultivo pode aumentar até 20%, e os produtores economizam custos, uma vez que não precisam mais comprar herbicidas. O resultado final: um solo mais rico, arbustos de chá em desenvolvimento e rios e córregos mais saudáveis.
Deixar as plantas que não são daninhas também ajuda a proteger a terra dos raios diretos do Sol e a reter umidade — o que é muito bom para os cultivos. Outras medidas que promovemos para melhorar a saúde do solo incluem o acúmulo de matéria orgânica no solo, o aumento da reciclagem de nutrientes e a melhoria da capacidade do solo de absorver e reter água.
Por essa abordagem holística de manejo de plantas daninhas (bem como o manejo integrado de pragas) ser uma ferramenta tão potente na melhora da saúde do solo, que ela é um foco crucial da certificação e treinamentos da Rainforest Alliance.
Melhoria da produtividade e meios de subsistência
O bem-estar daqueles que trabalham na terra é crucial para qualquer sistema de agricultura regenerativo — e isso significa, em parte, a melhoria da produtividade do cultivo e das rendas dos produtores. Um estudo recente refuta a crença de que a melhoria de biodiversidade nas fazendas compromete a produtividade, e em nosso trabalho, concluímos que a produtividade, na verdade, aumenta.
Na região de Junin, nos Andes Peruanos, pesquisadores concluíram que uma cooperativa de café Certificada Rainforest Alliance aumentou a produção anual, o que levou a US$280 adicionais por hectare em renda liquida de café nas fazendas certificadas. Outros estudos concluíram que produtividades mais altas geralmente levam a rendas maiores em fazendas certificadas, e cultivos certificados geralmente possuem preços de mercado mais altos. Robelo, da fazenda Aquiares, diz que a qualidade do café da fazenda melhorou, que os permite vender o café por um preço maior.
A Rainforest Alliance também ajuda pequenos produtores a fortalecerem suas práticas de gestão agrícola e de negócio para melhorar a renda de suas famílias. Uma importante parte disso, para a Rainforest Alliance, é incluir as mulheres na equação: Especialistas dizem que mulheres são responsáveis por até 60% da força de trabalho agrícola nos países em desenvolvimento, e são cruciais na segurança alimentar e na luta contra as mudanças climáticas. Finalmente, reconhecemos que a responsabilidade da melhoria das condições de vida deve ser compartilhada ao longo da cadeia de suprimento, de forma que os riscos, os custos e a carga da produção sustentável não caia apenas sobre os produtores.
Uma oportunidade de cura
Trabalhamos com produtores ao redor do mundo que demonstraram que a agricultura tem um grande potencial de ter impactos positivos na biodiversidade e no clima. “A natureza tem sido muito tolerante até agora”, diz Juliana Jaramillo, especialista em agricultura da Rainforest Alliance. “Mas isso está mudando. Estamos vendo sinais de que ele pode não se recuperar de nosso abuso. É por isso que não é mais suficiente reduzir nossos impactos nocivos – temos que melhorar a saúde da Terra. E a agricultura oferece uma excelente oportunidade para isso.”