Há uma razão para a igualdade de gênero ocupar uma posição de destaque entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas): os especialistas reconhecem que nivelar o jogo para as mulheres de áreas rurais é fundamental para a segurança alimentar e para a solução climática global.
Trocando em miúdos: se queremos um futuro habitável, as mulheres do campo devem ter acesso aos mesmos recursos, treinamento e oportunidades que seus colegas homens. Aliás, em alguns países, mulheres sequer têm permissão para ser donas de terras ou acessar crédito – embora possam estar fazendo a maior parte ou todo o trabalho em uma fazenda familiar. Por si só, não faltam dados que assegurem que propiciar às mulheres igualdade de recursos ajudaria a salvar o planeta. Além de números, porém, existem ainda inúmeras dessas figuras, em carne e osso, cujas histórias pessoais também são prova dessa máxima.
Nós, na Rainforest Alliance, temos tido a sorte de trabalhar com diversas mulheres incríveis que estão transformando suas comunidades e as paisagens ao seu redor, o que nos deixa orgulhosos de celebrá-las durante o mês de março. Conheça algumas dessas potências!
Agung Widi: liderança com cooperativa de cacau em Bali
Depois que a corrupção e a falência quase destruíram a Kerta Samaya Samaniya (KSS), uma cooperativa de cacau na zona rural de Jembrana, em Bali, as famílias de agricultores locais começaram a mergulhar cada vez mais na pobreza. Foi quando Agung Widi entrou em cena. Em 2002, ela lançou a Fundação Kalimajari com o propósito explícito de revitalizar a cooperativa. Hoje, mais de 600 agricultores-membros pertencem à cooperativa, que agora é certificada pela Rainforest Alliance – o que tem possibilitado a todos do grupo desfrutarem de melhores meios de subsistência, enquanto trabalham a terra de uma forma que pode ser sustentada por muitos anos.
Agung trabalha também pela reforma da política nacional a fim de transformar o setor do cacau em uma iniciativa sustentável focada nos meios de subsistência dos agricultores. Mas ela é talvez a defensora mais feroz das mulheres agricultoras. Veja este exemplo: uma agricultora de cacau disse que nunca sonhou que seria capaz de mandar seus filhos para a faculdade, mas, com a orientação pessoal de Agung, tocou o sonho adiante e o converteu em realidade. Agung e sua organização também lideram um programa formal de defesa da igualdade de gênero em nível distrital e nacional. E quando a crise de Covid-19 derrubou a receita da KSS, a cooperativa rapidamente mudou para o processamento de seus frutos crus para nibs de cacau, os quais têm uma vida útil mais longa – e a Fundação Kalimajari voltou a trabalhar, desta vez, para garantir compradores internacionais aos nibs.
Mary Waihigo Kamau: ‘embaixadora’ da energia renovável no Quênia
Há poucos anos, Mary Waihigo Kamau era uma viúva, mãe de três filhos, lutando para sobreviver em uma área de produção de chá no centro do Quênia. Seu ganha-pão vinha da coleta do pó de carvão do mercado local, o qual ela embalava manualmente em briquetes para vender. Era um processo bastante trabalhoso e meticuloso, mas que rendia apenas 60 kg de briquetes por mês.
Um dia, Mary se inscreveu para participar de uma iniciativa da Rainforest Alliance. O objetivo ali era incentivar comunidades locais a trocarem a exploração de combustíveis perigosos (como carvão e lenha) para energia renovável. Mary passou por treinamento para aprender a fazer briquetes carbonizados e sem fumaça. Pouco tempo depois, com o equipamento fornecido pelo programa, ela estava fazendo em uma hora a mesma quantidade de briquetes que fazia em um mês.
Rapidamente, ela se tornou uma empreendedora famosa no programa, com vendas a residências locais, bem como a hotéis e outros clientes. A renda de Mary aumentou consideravelmente, e agora ela é uma defensora apaixonada das energias renováveis.
Janet Bato: nas rédeas por um futuro melhor no Malawi
“As mulheres na minha comunidade são muito trabalhadoras. Produzimos todas as safras comerciais – e trabalhando longas horas no campo, enquanto cuidamos de nossos filhos”, explica Janet Bato, uma agricultora de chá em Thyolo, no Malawi. “As mulheres fazem todo o trabalho, mas são os homens que mandam e controlam os recursos.”
Mas isso foi antes de Janet e sua comunidade começarem a trabalhar com a Greenpop, uma organização dedicada à recuperação de florestas. Enquanto trabalhava no projeto, que foi facilitado pelo programa de parcerias da Rainforest Alliance, Janet ficou tão entusiasmada com a restauração da paisagem local que sua aldeia teve que reconhecer a paixão e o trabalho árduo dela: Janet foi selecionada para ser a gerente de recursos naturais da localidade. “Tenho planos de viveiros de árvores para que nossos filhos encontrem suas florestas recuperadas. Esse é o futuro que eu visualizo, e isto é o que eu quero para meus filhos: um belo Thyolo rico em natureza, rico em recursos naturais.”
Nadège Nzoyem: especialista na quebra de hegemonia masculina em Camarões
Nadège Nzoyem cresceu no oeste de Camarões, e sempre soube que queria trabalhar na silvicultura, mesmo sabendo que aquele seria um campo dominado por homens. Hoje, ela é uma especialista reconhecida nacionalmente em silvicultura comunitária, que supervisiona o trabalho da Rainforest Alliance com comunidades rurais em toda a África Central.
Ela sabe que, para conservar as florestas ecologicamente ricas da Bacia do Congo – uma extensão praticamente intacta de floresta tropical, menor apenas que a Amazônia –, as comunidades locais devem ser capazes de ganhar uma vida decente por meio de atividades sustentáveis.
É por isso que Nzoyem trabalha para compartilhar estratégias agrícolas e florestais que aumentam o potencial de ganho dos moradores e a resiliência climática. A iniciativa protege florestas, vida selvagem, cursos d’água e solos. Em Camarões, Nadège fortaleceu os esforços de conservação em 12 florestas comunitárias que cobrem cerca de 74.000 acres e abrigam cerca de 10.000 pessoas. Ela lidera atualmente um trabalho comunitário semelhante em três paisagens florestais críticas: Montes Bamboutos e Bana, nas Terras Altas Ocidentais, e na periferia sul da Reserva Dja da Região Sul. O projeto atenderá cerca de 1.800 homens e 1.200 mulheres.
Grecia Magdalena López: luta por igualdade de gênero na Guatemala
“Antes, não valorizávamos a noz ramón. Ela crescia na floresta e acaba ficando por lá”, diz Grecia Magdalena López, de Uaxactún, na Guatemala.
Ao longo dos anos, no entanto, sob a liderança de López e o apoio da Rainforest Alliance, mulheres de sete comunidades começaram não somente a colher castanhas cruas do chão da floresta, como a processá-las em farinha que usavam para fazer produtos de panificação e bebidas para comercialização. A fim de negociarem melhores preços, se uniram e formaram o Comitê da Cadeia de Valor da Noz Ramón, com Grécia comandando o grupo, no posto de presidente. Ela também conduz workshops sobre igualdade de gênero e direitos das mulheres. “Como mulheres, nossa participação nesse processo tem sido muito importante. Com a receita que obtemos com a venda desses produtos, podemos ajudar nossos filhos, especialmente com saúde e educação”, conta. Grecia também integra o conselho da OMYC, uma organização dedicada à gestão responsável dos 84.000 hectares de Uaxactún.