Um misto de gestão eficiente com boas práticas comerciais, ambientais e sociais: esse é a jornada de sustentabilidade que faz da fazenda brasileira O’Coffee, na região da Alta Mogiana (interior de São Paulo), ser um dos principais cases de sucesso do selo de certificação Rainforest Alliance.
Os modelos de produção e de negócio adotados pelo parceiro o fizeram conquistar o nível máximo (Level A) da nossa certificação – façanha que apenas outros sete parceiros obtiveram em todo o mundo.
Com volume de produção anual previsto para os próximos anos em 50 mil sacas e uma área de plantio de 1.500 hectares, a O’Coffee tem um tripé de ações de gestão e estratégia que explica o sucesso da marca, voltada especialmente ao mercado externo.
Gestão profissional
Um desses fronts é a profissionalização da gestão da propriedade, que já recebeu o Prêmio Fazenda Sustentável Globo Rural. Nela, foi adotado o modelo profissional de governança com rituais de gestão anual, mensal, semanal e diário, garantindo um acompanhamento de perto dos resultados e desafios de cada setor. E essa proximidade não é apenas nos números — o modelo de gestão ajudou a construir uma cultura de trabalho em time que permeia todos os setores.
Sobre esse aspecto, o diretor-executivo da O’Coffee, Ubion Terra, destaca como a conquista do Level A na certificação Rainforest Alliance ajudou a aprofundar ainda mais essa conexão da equipe. A avaliação para Level A mobilizou praticamente todos os 180 funcionários e foi encarada como um verdadeiro desafio coletivo pela equipe. E um desafio cumprido e muito comemorado, diga-se de passagem.
“Envolvemos todos os departamentos da empresa: área comercial, de agricultura, pós-colheita, saúde, segurança do trabalho… Foi todo mundo envolvido com um desafio e uma meta em comum”, relembra.
Ele observa que não só o envolvimento da equipe interna foi primordial para a conquista, como também a maneira como isso foi comunicado aos clientes, com divulgação nas mídias digitais da empresa, conscientizando sobre a importância da sustentabilidade.
“É ótimo participar de algo maior, que tenha reconhecimento e seja referência no mercado nacional e internacional: isso dá um senso de propósito a todo mundo que faz parte desse projeto”.
Além disso, a O’Coffee também estabeleceu um plano de gestão de 20 anos, atualizado constantemente, e um orçamento anual por meio do qual são analisados todos os investimentos e oportunidades.
Tecnologia em prol do meio ambiente
A segunda frente que faz da O’Coffee um parceiro exemplar é a incorporação de inovação, tecnologia e pesquisa para um uso inteligente dos recursos naturais – a inteligência artificial possibilitou a otimização do uso de água nos sistemas de irrigação, e a predileção por compostos orgânicos deve reduzir nos próximos anos em até 30% o uso de substâncias químicas na adubação.
“Esse é um sistema que usa uma inteligência artificial capaz de ‘ler’ o solo e ver a necessidade de acionar a irrigação, por meio do monitoramento dos níveis de umidade do solo. Ou seja: reduzimos o uso da água e a usamos de forma mais eficiente para a agricultura”, define o diretor-executivo da O’Coffee.
Até mesmo na separação hidráulica do café a adoção da tecnologia vem trazendo vantagens econômicas e também ambientais: a substituição dos equipamentos de descascamento dos grãos permitiu reduzir o consumo de 1,6 litros de água para 400 ml. Além disto, também foi realizada a substituição do meio de transporte dos grãos, que antes era por água e agora é feito com o uso de correias inclinadas, eliminando a água nesta etapa do processo.
No manejo do solo, é realizado o plantio de braquiária entre as linhas do café. A roçada ecológica é alternada entre as ruas e direciona a braquiária cortada para as linhas do café. Este manejo, além de reduzir o uso de agroquímicos, em especial os herbicidas, favorece o aumento de insetos que ajudam a combater outras pragas do cafeeiro.
O aspecto ambiental do negócio é garantido também por ações de reflorestamento — serão 50 mil mudas de árvores plantadas em diversas áreas de nascentes e cursos d’água até 2030 –, de preservação de uma fauna com mais de 170 espécies avistadas e de recuperação de uma mina d’água local. Há também ações de conscientização sobre a importância do impacto ambiental positivo na cadeia produtiva: todos os clientes que visitam a fazenda plantam árvores com o intuito de zerar as emissões de carbono de suas viagens até o local.
“Além de áreas de nascentes, nosso projeto de reflorestamento leva em consideração as regiões onde são avistados o maior número de animais silvestres”, explica Ubion Terra, diretor-executivo da O’Coffee.
“Essas informações são organizadas em um mapa, e, a partir daí, conseguimos visualizar e priorizar regiões com alto avistamento e pouca vegetação. Já foram avistados, por exemplo, Tamanduá bandeira, Tamanduá Mirim, Lobo Guará, Mico Estrela, Veado Campeiro e espécies de pássaros raras como o Soldadinho, que aliás, é uma espécie bioindicadora de ambientes preservados”, completa.
Sustentabilidade como diferencial de negócio
Por fim, o terceiro front é definido pelo parceiro como o de valores morais, uma vez que não é entregue ao cliente apenas o produto si, mas um conjunto de práticas determinadas pela certificação que possibilitam maior transparência na rastreabilidade do café, e, por tabela, maior credibilidade da marca junto ao mercado.
Esse tripé de sucesso tem um aspecto comercial levado bastante a sério pela O’Coffee. Mirando no mercado de cafés especiais desde o início, a marca investiu em uma cadeia produtiva invertida – ou seja, a produção na fazenda é realizada de acordo com a demanda dos clientes, o que permite uma maior personalização de produtos. Esta dinâmica é complementada por um modelo de direct trade, ou exportação direta da fazenda para o cliente, feito atualmente para mais de 15 países, distribuídos entre América do Norte, Europa Ásia e Oceania.
O diretor-executivo cita o episódio em que a empresa recebeu a visita de clientes japoneses que ainda não haviam fechado negócio, mas que se surpreenderam positivamente com a certificação Level A do produto na Rainforest Alliance – ao ponto de acertarem a compra do café dos brasileiros.
“Esses clientes se interessaram, e conseguimos, como parte disso, gerar negócio: eles valorizam muito a certificação e a sustentabilidade, assim como nós procuramos trabalhar com parceiros e empresas que também valorizam o que fazemos. Não adianta fazer isso tudo e buscar um mercado que não valoriza a qualidade e a sustentabilidade. Buscamos parceiros que compartilham valores em comum”, define.
Visão social
No viés social cobrado pela norma de seus parceiros, a O’Coffee desenvolve perante a comunidade local iniciativas de apoio a creches, hospitais e igrejas, bem como a capacitação de funcionários e seus familiares, com treinamentos técnicos e conferências sobre meio ambiente. Não ficam de fora nem mesmo celebrações de datas pessoal e culturalmente relevantes – tais como aniversários, festa junina e Natal –, ou datas comemorativas alusivas a gênero ou saúde – como Outubro Rosa, de prevenção ao câncer de mama, e o Novembro Azul, de prevenção ao câncer de próstata.
São bons exemplos como a fazenda O’Coffee que nos motivam aqui na Rainforest Alliance a seguir na jornada para construir um futuro melhor para as pessoas e a natureza.
Selo de certificação Rainforest Alliance – o que ele significa?
Como já explicamos em outro texto aqui do blog, a produção global de café enfrenta graves problemas de sustentabilidade – de modo que torrefadores e compradores precisam intensificar seus esforços por sustentabilidade. Ou seja: a indústria precisa favorecer o café certificado, em vez do café produzido convencionalmente, a fim de apoiar os produtores e ajudar a criar um setor mais responsável e rentável.
Nosso selo de certificação Rainforest Alliance demonstra que agricultores e empresas estão tomando medidas para tornarem seus produtos mais sustentáveis, e, com isso, criando um futuro melhor para as pessoas e a natureza. Além disso, ele possibilita às marcas enfatizarem o impacto positivo social e ambiental de seus produtos, à medida em que representa a visão de uma jornada de sustentabilidade baseada na melhoria contínua, na transparência e responsabilidade compartilhada entre agricultores e empresas.
Sabemos que somente juntos podemos restaurar a harmonia entre as pessoas e a natureza e criar um mundo onde todos prosperam. Nossa aliança é sobre mudar a maneira como o mundo produz, compra e consome produtos agrícolas e florestais. Juntamente com agricultores, comunidades, empresas e consumidores, podemos criar a mudança positiva que todos queremos ver no mundo.