A ideia de sustentabilidade ainda é muito ligada ao campo e às florestas. Mas é importante ressaltar o impacto que as empresas podem ter em todas as etapas da cadeia de suprimento quando adotam práticas sustentáveis. Maior companhia de café do Brasil, com um faturamento bruto de R$ 5,4 bilhões em 2020, a 3Corações tem noção de como pode ser uma grande influência para fomentar práticas mais responsáveis em todo o setor.
“É responsabilidade da indústria criar processos responsáveis e saudáveis para todos os que trabalham na cadeia do café. E o selo Rainforest Alliance é o crivo de que a relação entre o produtor e a nossa empresa é saudável.”, comenta Lauro Araújo, responsável por Pesquisa e Desenvolvimento na 3Corações.
O ponto de partida da jornada de sustentabilidade da 3Corações com a Rainforest Alliance foi em 2013. Nesta época, o grupo – atual líder em café torrado e moído e cappuccino e vice-líder em café solúvel no Brasil – estava estudando o desenvolvimento da sua versão de cápsulas para atender a demanda pela “monodose”. Araújo descreve este momento como a “4ª onda dos cafés especiais, quando o consumidor brasileiro descobre outros momentos de consumo”.
Mas, além da experimentação de novidades, outra demanda do público chamou a atenção da empresa. “Os consumidores estavam pedindo mais informações sobre o café, para entender o que estava por trás do pacote de café”, relembra Araújo. Coincidência ou não, na mesma época, a TRES fechou a parceria com Alex Atala. Além de ser um dos chefs mais premiados do Brasil, Atala também é muito envolvido com projetos de sustentabilidade.
Café certificado: uma relação mais próxima entre produtores e compradores
Esta foi a tempestade perfeita que fez a empresa buscar uma certificação de sustentabilidade. “A Rainforest Alliance foi escolhida porque ela nos apoia na construção de uma relação próxima com o produtor de café. E isso é algo muito presente na cultura da 3Corações, é um legado do nosso fundador”, explica Araújo.
João Alves de Lima deu início ao grupo 3Corações em 1959, e ficou conhecido por valorizar a sustentabilidade do negócio a longo prazo e o contato próximo com os agricultores. Conta-se na empresa que ele percorria mais de 2.700km de carro (de São Miguel, no Rio Grande do Norte, até o norte do Paraná) para conhecer as fazendas e avaliar a qualidade do café.
Atualmente, o grupo é uma sociedade entre a São Miguel Holding, da família Lima, e o grupo israelense Strauss. São mais de 6.900 funcionários e uma operação espalhada por todo Brasil, com 9 unidades industriais, 2 unidades de compra e beneficiamento de café verde e 27 centros de venda e distribuição próprios. Os 3 filhos de João – Pedro, Paulo e Vicente – fazem parte da diretoria e gerenciam o dia a dia da companhia, que registrou lucro líquido de R$ 299 milhões em 2019. No portfólio, há desde o café tradicional em pó e solúvel até dezenas de cafés especiais, versões em cápsulas e diferentes opções de máquinas de café.
O gigantismo da operação pode levantar a desconfiança de que a sustentabilidade seria um pequeno projeto, deixado em segundo plano. Mas foi justamente a cultura de proximidade com fornecedores que ajudou a sustentabilidade a permear as atividades da companhia, que chega a vender 137 toneladas de café certificado por mês. Vindos de mais de 60 fazendas do sul de Minas e da região da Mogiana paulista, os grãos chegam ao consumidor pela marca 3Corações Rituais.
Sustentabilidade como base para ações de promoção das mulheres na agricultura
E as fazendas estão longe de ser apenas linhas numa planilha de compra. “Nós acreditamos em relações duradouras. Sabemos exatamente quem é quem entre os fornecedores, que só podem começar a trabalhar conosco após serem avaliados pelo comitê da 3Corações. E, no dia a dia, estamos sempre reforçando as políticas do nosso protocolo interno de qualidade e conduta. Porque só com essa sinergia podemos crescer de forma sustentável”, comenta Araújo. Entre os procedimentos listado no protocolo, estão as diretivas da companhia sobre gestão de resíduos, reciclagem, uso otimizado de água e combate a abusos, como trabalho escravo e trabalho infantil.
Os benefícios da Certificação Rainforest Alliance não se limitaram ao suporte na relação com os produtores, à rastreabilidade do café e às boas práticas de sustentabilidade para a operação. Foi a partir da certificação que a 3Corações conseguiu também se capacitar para aprofundar a sua cultura de projetos especiais baseados na sustentabilidade.
O primeiro tema explorado pela 3Corações foi a igualdade de gênero na agricultura. Em 2018, teve início o Projeto Florada, que celebra o trabalho das mulheres cafeicultoras. Premiada pela ONU, a plataforma inclui capacitações, um concurso anual para eleger os melhores microlotes e a garantia de compra das safras premiadas. O café arábica chega aos supermercados em edições limitadas, com 100% do lucro revertido para as produtoras. “São cafés excelentes, de até 90+ pontos. As embalagens são totalmente personalizados com a história e o trabalho de cada uma das centenas de cafeicultoras que nos surpreendem a cada ano”, comenta Araújo. Até o momento, já foram 2.500 participantes, com 190 toneladas de microlotes comprados.
Protagonismo indígena: mostrando como é possível cultivar café protegendo a Amazônia
Em seguida, a companhia decidiu aproveitar o molde do Florada para trabalhar o protagonismo de produtores indígenas. O objetivo: mostrar como a proteção da floresta pode estar aliada à produção de cafés de alta qualidade. Assim, nasceu o Projeto Tribos, que promove microlotes de Robusta Amazônico cultivados por 132 famílias de 28 aldeias nos municípios de Cacoal e de Alta Floresta D’Oeste, em Rondônia. Além de capacitação presencial e remota em boas práticas de cultivo, os indígenas receberam investimento para construção de terreiros suspensos, para aumentar o cuidado e a qualidade dos grãos no processo de pós colheita.
Ambos projetos seguem acontecendo, mesmo com a pandemia, e já têm edições previstas para 2021. O impacto do coronavírus, inclusive, é algo que a 3Corações ainda estuda para entender como reorganizar seus objetivos, tanto de negócios quanto de sustentabilidade. Por ora, além das medidas sanitárias para evitar a contaminação de funcionários e fornecedores, a empresa se desdobrou para dar suporte tanto à equipe interna quanto para as comunidades no entorno das operações.
Funcionários receberam informações sobre a prevenção e itens necessários para trabalhar com o máximo de proteção, como álcool gel, mascaras luvas e face shield. A 3Corações implantou uma célula de saúde que oferece suporte medico aos funcionários e familiares, através da telemedicina. Em paralelo, respiradores, insumos e equipamentos hospitalares foram doados para os governos de Minas Gerais, Ceará, São Paulo e Rio Grande do Norte e a fábrica de filtro de papel no Rio de Janeiro foi transformada em uma linha de produção de máscaras, todas doadas para a população do Estado do Rio de janeiro. Outra frente de atuação foi a doação de cestas básicas e de produtos 3Corações para milhares de famílias em todo Brasil.